segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O menino curioso e a carpa resignada.

Sabe aquela rotineira e tão costumeira sensação do sempre que guardamos conosco e nem percebemos? Eu estou me referindo áquela sensação de quando vc tem lição pra fazer...e acha um quase saco fazê-la...ou então áquela sensação de...'putz...amanhã tem aula'....sabe? Será possível sentir falta dela? Será possível que cntra toda uma maré que diz querer mudanças e não mais sentir isso haja uma carpa que seja diferente? Que queira sentir o comum? Que queira sentir a rotina e uma vida sem surpresas? Seria hipocrisia minha dizer que existe?

" O menino estava olhando as águas gélidas descerem correnteza abaixo. Era pleno outubro e como todos os anos ele ia aquele lago com seu avô...ele nunca entendera como é que tantas carpas faziam tanto esforço todas na mesma época pra simplesmente subir o rio. Nunca compreendera o real singnificado disso. Afinal aquilo pelo qual as carpas anseavam com tanta vontade devia valer muito a pena, mas ele nunca soubera o quê.
E então daquela vez algo lhe chamou a atenção. No meio daquele cardume que nadava contra o fluxo das águas, escapava uma carpa negra. Seu corpo era esguio e completamente preto. Contrariando á natureza das carpas todas malhadas com rajadas de laranja, branco e amarela aquela se destacou. O menino permanecera observando-a até que o inusitado aconteceu. A carpa mudou sua direção. Perplexo com aquela atitude o menino se levantou agitado, tentando entender o que se passara. Será que ela havia se machucado, em meio a tantas nadadeiras? Ou batido numa pedra e morrida, sendo então levada pela água? A carpa então como se estivesse houvindo os pensamentos do garoto, se desviou para um tipo de poço raso e natural anexo ao rio, onde ela podia descansar um pouco. O menino curioso deu a volta no lago e se prostrou diante daquele negro peixe. Mentalmente o menino perguntou ao peixe o que havia de errado, afinal. 'Por que razão a carpa tinha se afastado do cardume?' Como se tivesse ouvido sua pergunta a carpa, inusitadamente lhe respodeu.
- Eu não tenho objetivos...
O menino mais preocupado com a carpa do que com o acontecimento surreal, prosseguiu o diálogo.
- Mas vocês sobem o rio anualmente... - mesmo ele não sabendo o motivo, sabia que aquilo era uma tradição - o que aconteceu esse ano contigo?
- O cardume age de forma coletiva...pensando em todas as carpas do grupo...e fazem isso anualmente para garantir a procriação de nossa espécie e a continuidade do equilíbrio natural. - Disse a carpa resignada.
- Mas se você entende tudo isso, por que então está perdida? - Perguntou o menino, esforçando-se para compreender.
- Exatamente por isso. Entendo a necessidade mas não me sinto parte do cardume. Essa tradição é eterna, mas todas as carpas fazem-na conscientes de sua escolha e dever. Mas eu não tenho algo dentro de meu corpo que me obrigue, nem ao menos me chame para a nascente do rio. - continuou - Eu não vou com eles, pois não quero a mudança...eu sou feliz ficando no meu lago, tranquila com outros peixes e numa rotina sossegada. Não quero nada mais além disso. Paz e aceitação.
- Por que você não diz isso as outras carpas então? Por que não se liberta dessa obrigação tão árdua? - disse o garoto tentando ajudar.
- Porque a vida nos obriga...a tradição...mesmo eu indo contra ela nos obriga a seguir o bando, e caso eu vá contra o cardume eu seria rechaçada, e possivelmente morreria de solidão, após o abandono pelos outros peixes. - concluiu a carpa - Me desculpe por incomodá-lo garoto...tenho que ir...nosso prazo de chegada á nascente está prestes a terminar e devo me apressar.
- Não se sinta presa a ninguém...o cardume não pode obrigá-la a tanta infelicidade... - lenvantando a voz ele disse. - Lute pela sua vida...lute pela sua liberdade...apenas....lute.
Já voltando a lentas nadadas para o rio, a carpa se virou e disse.
- Nem tudo que queremos é o que podemos, infelizmente pequeno. Afinal, quem disse que ia ser fácil?
O menino nunca mais esqueceu sua conversa com a carpa. Nunca se esqueceu daquela corpo esguio que sofria por não poder. Nunca mais se esquecera daquela última piracema que ele vira. E do real significado de ir contra a correnteza."



Talvez nada disso tenha a ver. Talvez tenha sido só uma vontade (outra) de escrever uma narração e desabafar. Talvez nem esteja bem escrito. Talvez ninguém leia. Talvez ninguém comente. Talvez nem adiante. Talvez....talvez a carpa esteja viva ainda. Talvez lutando por si mesma. Talvez seguindo a tradição. Talvez devêssemos todos fazer somente o que gostaríamos sem pensar no cardume.

Só talvez.

4 comentários:

  1. WOW!
    Adorei mesmo!
    Bem que você disse que eu ia gostar do tipo de narração! *O*
    Consegui lembrar do "Dia do Curinga", o livro que eu tanto prezo depois de "O mundo de Sofia" ò.ó
    nossa, fodona a mensagem que essa carpa transmitiu... fiquei inspirada a escrever (vou postar algo no blog)
    Sem muitas palavras, desculpe...
    Mas realmente gosteeei!
    \o/

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  2. Nossa Pedro, que texto belo e intrigante...

    Faz pararmos e vermos que nem tudo que queremos nós podemos, REALMENTE!
    Eee será q vale a pena nadar contra a correnteza?? Ou sabemos que não, mas não temos outra escolha?!!!

    Filosóficoo..

    Eu gostei!

    Beijos

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  3. a cada dia que leio seus textos,me surpreendo mais,Pê vc escreve muitissimo bem,amei!(como sempre) não tem como não gostar de um texto seu!

    ''Nadando contra a corrente,só pra exercitar todo o músculo que sente,me dê de presente seu bis,Pro dia nascer feliz''
    (ignore a música,escrevi porque lembrei)

    te amo ♥

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  4. as veses escolhemoscoisas que nem sabemos o pq...
    simplesmente somos levados pelo cardume, mesmo não querendo, mesmo não tendo vontade... o seguimos, pois o medo não nos deixa seguir em frente...
    o medo do fracasso,a derrota, o medo das mudanças, de acontecimentos e o medo de ficarmos sozinhos com nossas escolhas...
    então para não acabarmos sozinhos morrendo no rio, seguimos as tradições... pq elas ja dizem o que devemos ou não fazer... como podemos ser felizes...
    mas a escolhas que cabem somente a nós, e mesmo sem compreender o pq de tudo isso, sabemos que uma hora teremos que partir e seguir o nosso rumo, ou deixar que nademos contra a correnteza

    PS: seu texto foi belissimo...

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