sexta-feira, 14 de maio de 2010

Open your eyes.

Ao som extremamente necessário de: Snow Patrol - Open your eyes

"-"Cansei de mim mesmo!" - A frase fez o garoto despertar para o que realmente sentia. Para tudo aquilo que o aflingia há tempos e não havia achado explicação ainda. Até aquele momento.
Palavras precisavam ser ditas, sempre. Em caso adverso, aquilo se entalava nele e o sufocava como se sua glote fechasse à entrada de ar. Era exatamente isso. Sufocado, era como aquele garoto se sentia. O mundo parecia ter virado 'de repente' e esqueceu de lhe avisar.
Enquanto a vida passa, ele se contenta com pouco, para não sofrer em busca do muito. Se contenta com o fácil. Com o próximo. Ou pelo menos se faz crer que aquilo será melhor assim. Com a aprovação e felicidade de tudo e todos.
Uma repentina voz gritou em sua mente:
- Abra seus olhos! - e aquilo reverberava por sua consciência e inconsciência - Abra seus olhos!
O garoto ouvia a frase repetidas vezes. De novo e de novo e de novo e de novo. E a inércia se acometia dele e o tornava estático. Prendia seus pés aõ chão como raízes musculosas de uma figueira fariam. E então a voz parou.
Tudo desabava a sua volta e o garoto se via sem ar e sem movimento.
- As aparências enganam, afinal. - dizia uma irônica voz em seu ouvido, um susurro tão cheio de si que o fez arrepiar-se todo.
Ele olhava máscaras de algum material desconhecido no lugar onde deveria estar a face das pessoas a sua volta. Um material resistente, que insistia em permanecer inerte ao passar dos anos. E desenhada nas máscaras as mais maldosas repreensões que se podia conter no semblante humano. Dó. Desprezo. Apatia. Ignorância.
Uma a uma as máscaras se reuniram em torno dele. O garoto estava sem ar, sem movimento e sendo julgado.
Aos poucos, sua visão começou a falhar e tudo escuresceu.
Quando o garoto recobrou a consciência (ou o que quer que estivesse no lugar dela), ele estava num palco. Num grande palco, com um único foco em cima de si mesmo. Olhou em volta e a inércia, a falta de ar e os macarados tinham desaparecido. Não consiguia destinguir onde era platéia e onde era o fundo do palco. Tudo estava numa escuridão reconfortante.
Sentiu de repente um acréscimo de energia dentro do peito, que a essa altura pulsava num palpitar incessante enquanto se setnia emocionado cada vez mais.
'estou ficando louco' pensava ele, com os olhos mareados e sua boca quase explodindo de vontade de gritar. E então veio. O Monólogo:
- Cansei de vocês. De todos vocês. Não me importa mais nada. Só quero estar onde eu me sinto bem, feliz e reconfortado. Só quero estar onde as pessoas me amem. Só quero estar com elas. - Gritava ele com tanta voracidade que gotículas de saliva saltavem de sua boca - Não acredito mais em nada, não quero mais nada disso. Tudo a minha volta me distrai e me afasta do que eu amo e de quem eu amo. Não quero mais ter que lutar. Meu corpo não aguenta mais. Minha mente não aguenta mais. Chega disso tudo já!
Respirando fundo ele recomeçou:
- Vocês me fizeram acreditar que isso é o que sou. Mas esse determinismo maldito me molda de uma forma que não sou. Cansei de fingir. Cansei de tentar agradar. Cansei de tudo isso. Já chega! Vão procurar outra comédia, porque esta aqui já acabou! O que represento pra mim mesmo é muito mais do seus podres e alienados olhos podem compreender. Não preciso agradar a ninguém aqui, e não o farei mais. Isso é uma promessa interna. - As lágrimas escorriam por seu rosto e gotejavam em seus pés - SÓ O QUE QUERO É SER FELIZ. TER OS QUE AMO AO MEU LADO, E FAZER O QUE QUERO. NÃO ME JULGUEM POR ISSO, NEM POR QUE EU SOU. VOCÊS NÃO ME CONHECEM, NÃ SABEM NEM METADE DO QUE EU VIVI, NEM COMO EU VIVI. ENTÃO CHEGA DISSO. NÃO AGUENTO MAIS E NÃO VOU MAIS ATURAR.
Então o menino caiu. Nenhum som era ouvido a não ser seu pranto. Ele soluçava enquanto lágrimas escorriam. Sua somrba no chão o lembrava de onde estava. 'Sozinho enfim.' E então ele olhou para a frente, mesmo sem saber onde era a devida frente. E como ilusões começaram a aparecer faces. Rostos conhecidos por ele. Um a um se formaram em um círculo em torno dele. Começando pelos pés, ele se aterrorizou ao imaginar que os mascarados haviam voltado. Mas dessa vez não. Os que ali estavam eram os amados.
E então um a um foram aparecendo. Nana, Gabi, Gleyce, Angela, Marina, Fernanda e Natana. Em torno dele. Junto a ele. Observando ele.
Seu choro intensificou e então cabisbaixo chorou. Chorou por um tempo que nãose pode determinar em outras épocas. Chorou como se isso fosse o bastante para viver. Como se isso fosse o bastante para estar ali e permanecer ali.
Quando tudo estava definitivamente perdido e triste o menino levantou a cabeça e viu além. Atrás daquelas 7 pessoas outras apareciam. Outras amadas. Nicole, Luciana, Thiemy, Nathália, Bruna, Mayra. O menino não compreendia porquê tantas pessoas estavam ali para julgá-lo. E então para sua surpresa uma a uma as pessoas fora do círculo lhe enviaram beijos com a palma das mãos. Ele sentia como se cada beijo fosse em suas bochechas e um acréscimo de força era somado a ele. Nada comparado ao necessário para ele se levantar, mas aquilo já lhe deixou surpreso.
Terminados os beijos, o menino tentou sorrir. E então cada uma das 7 pessoas estendeu sua mão. Estendeu-a com direção ao centro do círculo onde o menino jazia caído e triste, perdido em um mundo que não se podia entrar. Uma a uma. Uma a uma. O menino foi acometido de energia novamente, mas desta vez tão forte e tão intensa que o fez ajoelhar-se. A cada segundo mais se lavantava um pouco com aquele prazeroso fluxo que se estabelecia. Então todas as 14 mãos ali presentes o levantaram. Cada uma segurava-o em um ponto vital e o acrescia de mais energia, de mais força de vontade e esperança.
Quando o garoto se levantou a platéia se iluminou e os rostos sumiram. Mas a energia não. Ela contiuou lá. Na platéia as máscaras se encontravam, e uma a uma elas foram se quebrando. Com o olhar do garoto elas trincavam e explodiam em milhares de pequenos pedacinhos. Uma a uma se explodiram todas.
A visão lhe escuresceu de novo e quando abriu os olhos estava em sua cama.
'Tudo não passara de um sonho...que droga!' - Pensou o garoto em represália a se permitir tanta ilusão.
Assim que se levantou e olhou para seu criado-mudo "acordou" do eterno sonho em que se encontrava.
Como uma pedra preciosa, jazia um pequeno pedregulho, que ele sabia, era o material das tão temidas máscaras.

- Abra seus olhos! - Uma útlima vez pulsou em sua mente."

3 comentários:

  1. *comentando ao som de Open Your Eyes*

    piração! pura piração, e das boas! *-*
    é bom sentir-se cansado de si mesmo. claro, isso prova que você não se acomodou e luta para não o fazer. as crises pessoais e o pose do mundo vem e vão, sempre. mas eu sei que seus pilares, apesar de humanos e com falhas, vão persistir do seu lado e mais que isso, dentro de você. acho lindo isso de você ter pilares de sustentamento. - todos temos, mas ninguém os menciona dessa forma poética, admirável.
    vou sim tentar te chacoalhar todas as vezes que achar necessário. vou ouvir você e respeitar seus pedidos de "cale a boca". somos sim muito parecidos, mas distintos em muitas coisas. você amadureceu muito, sabia? e foi apenas um ano... aiai, um ano! parece muito mais, porque é intenso demais. sei que estou fugindo do ponto e divagando, pra variar. não posso me transportar pra dentro do seu drama, mas continuo aqui, firme, assistindo e tentando ajudar da melhor forma possível.
    você vai voltar... vai relutar, pensar e desabafar, mas vai se encontrar de novo. vai achar um novo pedaço especial dentro de si, do qual vai se orgulhar e vai levantar a cabeça.

    SIM, ABRA SEUS OLHOS!
    e eu continuarei aqui!


    (texto digníssimo!)

    ResponderExcluir
  2. (entre o riso e as lágrimas)

    ler tal texto, não só me fez refletir, como também me identificar com suas palavras...
    suas fontes de sustentação, seu esforço, seu palco, seu mundo... como mudou... como girou, e parou de repente. Ainda bem que o inconsciente faz o trabalho pesado..
    Ainda bem...
    Abrir os olhos é o primeiro passo para admitir e seguir em frente...
    estaremos aqui... na platéia...
    para quando precisar...

    ResponderExcluir
  3. Entre refletir e sentir, já não sei mais qual me vem de encontro a essa leitura louca, louca linda leitura. Acaba em um mix, fazendo meus olhos se abrirem lentamente e de leve é possivel ver os sentimentos chamando algo bom, dizendo que está tudo aqui, tudo perto de mim, de ti... do mundo vindo pra nós.
    É bom sentir que os olhos estão se abrindo, enquanto um sorriso vem querendo brotar, só pra alegrar um bucado sem explicação.
    Esse seu palco, esse palco.. eterno. Sem máscara alguma meu amor, só rostos definidos, ou nem tanto.. mas sempre ali, lhe mandando beijos e mostrando que você é o nosso amor mais lindo!
    Eu amei tanto essa escrita!

    ResponderExcluir