Carmella – Beth Orton
Eu saía do metrô. Essa música me ocorreu, e por algum motivo eu quis acreditar que o modo aleatório do Bill, tinha um quê transcendental de vez em quando. Parei pra esperar uma grande amiga chegar, e passei os lhos, rápidos, invisíveis, e impensáveis por todos. Todos mesmo. Todos à minha volta eram ligeira e educadamente revistados por olhos sagazes que esquadrinhavam o ambiente. Vislumbrava em cada um daqueles seres humanos o toque de vida que cada um dispunha. A vida inteira pela frente, as histórias pessoas de cada um, as particularidades de cada ser humano. A vida de repente mostrou que havia algum sentido em toda a correria, em toda a multiplicidade, em toda a diferença de cada um, enfim pareceu que algo faz sentido na correria, na variedade, na vida mesmo. Veio-me a mente que cada um daqueles pequenos e ínfimos seres humanos tinha seu papel, seja numa sociedade variada de uma cidade, de um país, de nosso planeta ou quisá no universo. Pareceu idiota, e pobre da minha parte a partir daquele momento ignorar a variedade e divina importância de cada um no meu cotidiano. Pareceu heresia desvalorizar o trabalho de qualquer ser vivo nessa rede conectada e gigante que une a todos nós. Tudo fez sentido afinal, foi uma revelação. De algo que havia de se mostrar pra todos, pra termos ideia constante e irrestrita do quanto somos um só coração, uma só célula. Depois que a amiga querida chegou, parei pedi que fechasse os olhos, lhe coloquei os fones, e ela fez o que pedi, abriu os olhos e olhou rápida e educadamente pra todos a sua volta. Éramos dois em meio há algumas centenas que passaram por ali, correndo, rugindo, e bravejando por um lugar ao Sol, nós parados, olhando-os sem ao menos eles perceberem, eles corriam afobados com sua pressa sem fim, e nós dois, tendo uma baita revelação. Mal sabíamos nós que o dia que seguiria seria cheio de revelações quanto a necessidade de cada ponto no crochê da vida.
Aeroporto de Curitiba, Paraná. 11:17 – 19 de julho de 2011
A sensação volta. A certeza de que não é nada passageiro. A certeza de que uma noção, uma lição de humildade foi aprendida, e que certamente deve ser aplicado com vontade. Desde a moça que passa o pano no chão à minha frente até o piloto consagrado que fala no telefone ao meu lado e carrega seus objetos caros e desnecessários. Todos têm de fato seu papel nesse aeroporto, em suas casas, em seu país, e nesse universo pequeno. Todos somos formigas sim, mas iguais em importância, ainda que pareça mentira, somos todos iguais em importância, e bens materiais continuam não dizendo nada sobre essa importância. Os papéis que executamos são essenciais a alguma parte em algum momento, mas tranqüilizem-se, certamente somos especiais e necessários. Todos nós. Mesmo.
Quem diria que esse dia seria tão especial e significativo. Obrigada pelo dia e por todos esses momentos mágicos de coisas que só a gente entende. Obrigada por compartilhar comigo essas idéias e essas viagens mentais, espirituais e filosóficas. Obrigada por ser importante não só no universo, no mundo, no país, na cidade, mas na minha pequena vida também. :)
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