terça-feira, 29 de junho de 2010

Farto.

Today Has Been Ok - Emiliana Torrini



Algo aconteceu. Em algum ponto me perdi. E continuo perdido. Não sei se passei por cima de algo, se despercebi algo importante, ou esqueci o que deveria lembrar. Mas não me reconheço, e isso não pode, definitivamente, não pode ser curado tão facilmente. Estou sim, farto de recaídas e melhoras. Estou farto de dizer que estou bem e em seguida piorar. Cansado de intercalar textos de excitação e depressão.


Alguma parte de mim foi deletada. Aquela que tinha noção do mundo, que não se deixava abalar por pouco, que não se importava com os outros. A parte auto-suficiente, liberta, astuta e sábia. A parte que se garantia, que falava por si só. Perdeu-se...em meio a torpor, ciúme, amor, saudade, lágrimas e risos, sabe-se lá em meio a quê...


Minha metade já não corresponde ao que costumava ser. Um grande vazio e um frio se apoderou dela, e por algum motivo se mantém distante. Estou farto de ouvir sua felicidade, seus dias maravilhosos, sua maré de boa sorte e me manter quieto. Estou farto de tanto egocentrismo. Tenho cuidado de todos que posso pelo maior tempo que aguento, mas quem cuidará de mim? Estou farto... Sempre achei nobre, maduro ser tão amigo e tão solidário, mas o ponto em que estou querer ajudar alguém é ser idiota. EU é que preciso ser ajudado.


Não peço clemência, não peço dó, não peço compaixão de absolutamente ninguém. Não quero comentários nesse texto. Não quero ver o que vocês pensam sobre isso, sejam vocês quem forem.

Eu sei que depois de escrever isso vou até melhorar, me sentir novo. E provavelmente amanhã ninguém percebrá, ou saberá do que senti. Mas uma hora vai voltar, sempre volta. E estou cansado de esperar isso voltar. De aguentar isso. E de não terminar nunca.

Também sei que não serei facilmente recuperado. Minha cabeça não consegue discernir a verdade, do que imagino. Minha criatividade se mistura aos fatos e me deixa perdido.

Preciso voltar ás minhas raízes logo, talvez encontrar naquele turbilhão de trânsito, fumaça e violência a parte que se perdeu. Talvez encontrar no meio daqueles milhões a metade que se foi. Talvez encontrar meu orgulho próprio, minha auto-estima, meus dias melhores. Encontrar em colos e abraços conhecidos a parte que eu costumava ser. Encontrar-me, enfim. Mas que venha logo, que venha logo a parte paulistana, porque eu estou farto. Farto de tudo isso, de todos nisso, de tudo isso que me transformei, ou me estagnei. Cansei...






Hora de sumir.

domingo, 27 de junho de 2010

Complexidade

Ouça: The Planets Bend Between Us - Snow Patrol




Ser complexo. Bastava pra mim, só dizer isso. Porém nunca fui a fundo, nunca adentrei. Só era, e ponto. Era justificativa pra tudo. Era desculpa pra muita coisa. Era fuga pra não ter que assumir responsabilidades, pra não ter de assumir riscos, pra botar quase sempre a culpa na insconsciência e continuar levando tudo na barriga. Nunca entendi porque, mas me fiz acreditar nisso, e se fez verdade, ao menos pra mim. E por mais irreal que seja, conveio, todos acreditaram, porque talvez, conscientemente ou não, eu fiz com que acreditassem.



Isso é sim mais um drama, e meus dramas tem levado a um ponto bem comum. Não mais os outros, não mais o meio, mas a mim mesmo. Isso me preocupa, quando meus próprios dramas não são baseados no alheio. Tem ficado sério, sinto muita complexidade, e aí sim essa palavra faz algum sentido, um real sentido. E a complexidade gira em torno de mim. Me amedronta, quando alguma lucidez ou ao menos clarão toma conta de mim. É como se eu saísse de meu corpo e visse o quão estranho sou/estou.



Palavras doces, amorosas, carinhosas, costumavam fazer isso passar, e alguma parte de mim ainda crê que tudo passa quando um "sdd de vc" aparece. Eu usei isso, durante muito tempo pra me fazer melhor. Usei essas palavras, relia-as, reouvia-as, relembrava-nas e passava. Mas era paleativo. Nunca era definitivo. É fato que as dores iam ficando menos intensas, quanto mais verdadeiras eram as palavras e mais demonstrativos eram os gestos. Mas ainda assim. Vi que algum mal havia nisso. Se as palavras estavam ali e ainda assim um vazio continuava havia algum mal. E a minha lucidez, ou o tal clarão confirmam, que as palavras não PODEM ajudar, que tenho que ir mais a fundo nisso, mesmo estando melhor, só com as mesmas palavras, recodificadas em uma situação diferente. Se as palavras são paleativas, tenho de achar a fonte de toda essa solidão. Minha cabeça me diz uma coisa e meu corpo diz outra. Talvez meu coração. A questão é se quero acreditar nisso. Se quero aceitar isso. Se quero colocar tudo a prova. Se estou disposto a mais uma vez sofrer as consequências. E a resposta é não.



Não quero passar por tudo de novo, por mais diferente e mais complexa que seja essa situação não estou disposto a abandonar. Ninguém disse que seria fácil. Não mesmo. Mas não posso largar assim. Àquela vez até entendo, era novo, imaturo e muito cru, não sabia da missa o terço. Mas agora sei. Pelo menos disso eu sei. Não posso abandonar essa situação. Há mais gente do que eu envolvida aqui, e dessa vez essas pessoas precisam de mim, e merecem que eu esteja aqui pra elas também. Não posso ser evasivo e fugir disso mais uma vez. É sim complexo, e se pra mim é complexo você não sabe como seria pra você. É novo de fato, mas é complexo.



Não sei em que ponto dessa história me perdi, em meio a quias palavra,s a quais atitudes, mas aos poucos fui me vendo. Fui vendo minhas atitudes, e elas não eram nada condizentes com o que deveriam ser. "Não me reconheço mais...só quero acabar com isso...não sou visto"...isso agora faz sentido. É lógico que não me reconheço, é óbvio que queria acabar com isso, e natural que não tenha sido visto. Nem eu sei se eu quero ser visto.



Estou numa situação cômoda e ao mesmo tempo incômoda. Me sinto bem por estar onde estou, e ao mesmo tempo quero mais. E sei que não terei mais. Não quero mais. Quero intensidade, não adição. E isso é absrudo, simplesmente aprendi a me adaptar. Me adaptar a algo irreal. Nem você nem eu sabemos até que ponto ir, por ser novo para mim e para você. Mas agora sei no que pensar, no que me apoiar, no que começar a tampar.



Não dá pra continuar do jeito que está, e nem sei se te direi isso em letras garrafais, ou em palavras explícitas, mas tentarei, ao máximo mudar isso sem afetar tudo o que construimos, porque vale a pena. Dessa vez, vale a pena, muito a pena. Preciso de mudanças, de alguns reparos, em mim, em nós dois. Mas vale a pena, e não vou desistir. Então se você não souber de nada, e eu continuar aqui, é porque deu certo.






Sou mesmo complexo. Agora foi. E sem fugas, pelo contrário, aceitando riscos. Sou complexo.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Reciprocidade

Trilha: Kings of Leon - Use Somebody




" Ele apareceu quando você não esperava mais nada da vida ! "


Do início. O vi ao longe, no fundo daquela sala, super inturmado e a última pessoa que passou pela minha cabeça tronar-se minha pessoa. Meses se passaram, eu mudei, me adaptei, conheci, voltei até a sorrir. O ano findou, e a surpresa logo veio, dele.

"Obrigado por fazer de minha vida mais feliz."

Um surpresa e tanto, nunca havíamos sido tão próximos, não o suficiente, até então, pra eu me sentir tão importante para ele. Mas assim foi.

Novo ano se iniciou e conceitos (como sempre) cairam por terra. Dias se passaram, não mais que algumas poucas semanas e nos aproximamos mais e mais. Nova e repetidamente as aparências enganaram, os julgamentos foram errados e ele entrou. Entrou na minha vida.

Aí sim, semanas passaram e aquilo foi ficando mais que coleguismo, virou amizade. Seguia com ele e sentia reciprocidade, sentia afeto mútuo. Comecei pela primeira vez desde o antigo, o primeiro torpor, a sentir carinho, a sentir acolhimento. Foi como uma árvore, uma árvore que saiu do inverno e entrou na primavera. Isso, como uma árvore primaveril.

Então se tornou muito íntimo, era algo realmente forte aqui dentro, e lá dentro também. Senti em ambos. Vi em ambos. Compreendi em ambos. E sorri, sorri com entusiasmo, felicidade e muito amor.

Então pela primeira vez em anos, senti segurança. Segurança em falar, em me abrir, em soltar, em rir, em chorar, em ser eu mesmo. E fui. Consumido por uma incerteza de aceitação, de gostar, de compreender, de amar. E mais uma vez fui abençoado, Deus mais uma vez, me deu o dom de ter pessoas maravilhosas e muito especiais ao meu lado. Foi como me sentir em casa novamente, foi como ser eu mesmo, adormecido há meses, novamente. Fui, sou e serei. Um bem-estar, somado á bem-querença, amor, afeto, amizade, emoção e muita felicidade se fez em meu peito. Tinha minha pessoa, enfim, eu realmente a tinha. Veio do nada como quem vem sem nada, sem pedir nada mas se instalou e agradou, muito. Surgiu uma vontade recíproca de conhecer logo, uma pressa de consumir a existência e todo um passado interessantíssimo ao olho do outro, uma vontade de saber quem é, quem foi, como foi, o que foi, como está sendo, e como chegou a ser. Um sentimento jamais provado por bocas hostis, ou corações gelados. Um profundo afeto. Inabalável agora.

Então veio o desconhecido. Sim, nem tudo foram flores nesse primaveril tempo. Houveram sim, algumas trovoadas, certa chuva e um pouco de granizo. A árvore sofreu, a árvore balançou muito com ventos fortes e maldosos. Parte daquele torpor, só pra cutucar, voltara e apertara feridas (quase) cicatrizadas, fazendo novas surgirem. Muito arder, muito sangue, muita inconstância, muita dor, muito queimar, muita nuvem, muita solidão. Tudo aconteceu, a pouco, aconteceu. E depois de incertas melhoras, frágeis levantadas e algumas recaídas a verdade incontestável se fez.

Aqui se segue nossa narrativa. Após alguns tapas na cara, lágrimas e muito aprendizado, veio a certeza. Nunca o gostar foi tão profundo, tão recíproco e tão certamente mútuo. Após muito, muito penar EU mais do que ninguém tive e tenho certeza.



' O que esse homem representa pra mim, ultrapassa minhas capacidades descritivas. Comecei odiando-o, passei a aturá-lo, a seguir gostei um pouco dele, me aproximei, gostei um tanto mais, descobri q era bem legal até, mas hoje...hoje não sei descrever. Amor é o mais próximo que chega do que sinto por ele.

A cada dia agradçeo por tê-lo, por estar com ele. Sinto uma fome de conhecê-lo, de conversar, de passar tempo com ele, de fazê-lo feliz e de deixá-lo fazer-me feliz.

Um homem, digno, respeitável, de caráter, princípios, inteligente, companheiro, extremamente companheiro, carinhoso e essencialmente amável.

Quero estar, continuar e permanecer todos os dias de minha vida em sua presença, esse sentimento novo, essa amizade nova, esse amor novo. Quero muitos e muitos frutos de nossa segurança, de nossa bem-querença, de nossa extrema reciprocidade.

Sim, precisei de muito tempo, especialmente de certeza, pra me fazer crer, que era realmente mútuo. Pra saber que você também precisava de mim. Pra saber que você também que queria pra vida toda. Pra saber que você se importava comigo. Que me via, que me entendia. Precisava, porque agora ja tenho isso. Tenho tudo isso guardado no fundo de um coração profundamente satisfeito, e muito surpreso, por ter ganho tanto, já que não esperava mais nada da vida.'



À você, minha pessoa tenho algo a dizer:

Realmente não importa. Quantas pessoas passem, quais sejam, quando venham, como venham, você sempre será único. Sempre será intransponível. É sim um dos "9", agora mais do que nunca, sabe por que? É, você sabe... Eu tenho uma certeza, a certeza no fundo do meu coração, da minha mente e de todo o meu corpo de que você sempre vai estar aqui, de que você sempre será minha pessoa, e que eu sou a sua. Isso, só isso, torna você um dos "9".

Viga de sustentação como costumo chamá-los, mais do que me apoiar são mútuos. São absurdamente recíprocos. Posso te apoiar, e sei que você conta com isso. Me orgulho de ser pra você o mesmo, e me sinto abraçado com toda a força por isso.

Quero e sempre irei querer estar ao seu lado, quando for, como for, onde for.

Te ver chorar, me desespera e ao mesmo tempo me alegra. Desespera te ver sofrer, queria consumir todo seu sofrimento pra mim e fazê-lo melhorar. E me alegra por saber que parte do choro é felicidade, felicidade e emõção só pela verdade que eu disse. Que eu lembrei, e frisei, pra você saber o quanto é amado.

Mais do que nunca, acho que estava preparado pra lhe escrever. Já venho pensando nisso há tempos, e agora me senti bem para.

Nós somos muito pra nós dois, suficientemente pra doer, sangrar e sofrer pensar no fim.

Mas como, sabiamente, concluimos hoje...




" - O fim é belo e INCERTO...

- Não precisa ter fim...

- Só será fim, quando dissermos que acabou, certo?

- Isso! Nunca terá fim então!!!

- Nunca mesmo."



É, acho que te amo cara.

sábado, 19 de junho de 2010

Galhos, raízes e estações. Sempre!

Coldplay - Viva La Vida


A hora é chegada. Sinto a vibração no ar. A sensação, o sentir da noite é diferente. O ar parece estimulante, fugaz. O relógio vagarosamente passa. Peço por uma pressa, por um tempo que depois reclamarei. Quero que a noite chegue, mas quando chegar será rápido, lindo, e noturno. Depois lembrarei, e sentirei saudade desse tempo que pedi, dessa pressa que perdi.


Sair e entrar em dramas pessoas cada vez mais é comum em minha vida. Não sei mais o que pensar deles. Se são bons, ou ruins, se são rápidos ou lentos, não sei o que são. Não sei de onde vem, e definitivamente não sei pra onde vão, e muito menos se voltam. Mas quanto mais saio deles, mais volto a superfície, mais me sinto voltando a viver, a sentir, a ser eu mesmo. A achar a essência de mim perdida em meio a esse torpor. A encontrar em galhos, raízes e folhas a beleza da vida. A descobrir que as estações veem, mas podem se transformar. Que as estações entram e saem, mas algo delas sempre fica, marca e pode permanecer. E nessa história se eu e a rimavera quisermos, podemos sim transformá-la num galho ou numa raiz, pra fazer eternamente parte de mim.


Sentir a presença mais e mais sólida dessa primavera, sentir sua bem querença, sua importância para mim e comigo, me faz torná-la cada vez mais minha. Me faz querê-la cada vez mais, a fazer parte dela comigo. Às vezes que reclamo de meu tempo sem ela, um dia serão cumpridos. Essa necessidade em contar-lhe algo que nem eu sei, em estar com ela, em sentir falta dela e querer tempo para conhecê-la melhor e deixá-la conhecer-me serão dadas. Dou tempo ao tempo, que sendo mocinho ou vilão nessa história dará singularidade a nossa relação, e fará certamente dela eterna.


Agradeço a Deus mais do que nunca a possibilidade inenarrável de ter raízes e galhos tão fortes, de ter estações do ano tão intensas e de ter o Sol, sempre sob minha cabeça, ora fazendo sombra sob uma verdade que não estou preparado a ver, ora revelando paradigmas que não deveria seguir. Agradeço a cada um de vocês que fazem desse indivíduo o que ele é, que ajudam na construção desse ser.


Anoite vem com um pulsar, com um vibrar. A sensação noturna me absorve, uma felicidade e emoção arrepiam-me e me felicitam com uma vida inteira pela frente. UMA VIDA INTEIRA PELA FRENTE! Meu Deus, uma VIDA INTEIRA, que eu aprenda e seja tão amado ao londo dela como fui esses ínfimos anos. Obrigado por tudo, e que venha! Que venham mais dramas, mais lágrimas, mais sofrimento, mais recaídas, mais quedas, mais sangue, mais ferida, mais torpor. Mas que mesmo apesar de tudo, eu tenha galhos, raízes e estações para me guiarem nessa intrigante jornada diária.




"Vamos viver jáaaaaaaa!"

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Refúgio ou Fuga?

Música: John Elliot - Back Were I Was


Até que ponto alguém pode se fazer sofrer? Até que ponto isso é desejável? Se é que em algum momento foi...

Me encontro preso em grades que talvez eu mesmo tenha imposto, em um personagem que não custumava ser eu, em um mundo que não dá pra ninguém entrar, nem sair.





" Era uma vez uma árvore. Jovem, esguia, mas verde. Cresceu rodeada por uma floresta, de carvalhos, figueiras, mangueiras e outras frondosas árvores. Rodeada por sabedoria, experiência, e muito amor de todas as outras árvores. Com o passar dos anos, essa árvore foi crescendo, e observando mais e mais árvores a sua volta, que lhe rodeavam e lhe faziam companhia, sem ela perceber. Foi adquirindo mais e mais amor e felicidade, em tornada por aquelas irmãs.

Porém, um belo dia, quando sua vida botânica se encontrava feliz, e (pensava ela) completa, o inesperado ocorreu. De repente, não mais que de repente, ela foi arrancada daquela aconchegante floresta. Perdendo a consciência por dias, e voltando a si posteriormente, a árvore não entende o que lhe ocorrera. A sua volta, onde jaziam frondosas, imponentes e experientes árvores, agora se via deserto. Em volta daquela jovem e muito verde árvore, só jazia areia. Não entendia porque nem como aquilo havia lhe ocorrido, mas sua felicidade havia sido cortada. Meses se passaram e a árvore foi muchando, se encolhendo e perdendo a cor, tornava-se cinzenta e sem vida. Um inverno rigoroso se apossou da região, transformou toda a areia em gelo maciço e seu tronco foi recoberto com uma espessa camada gélida. E assim se passaram, dias, semanas, meses...

Quando a árvore já se adaptava aquela tristeza, distância e falta de amor, quando a árvore já havia se esquecido de como era aquela sombra de sabedoria e de amor de toda uma floresta, quando a árvore havia se esquecido de como era ser verde, quando tudo estava perdido, ela apareceu. Aos poucos, sorrateiramente, a primavera vinha derretendo com paciência a camada de gelo da árvore, vinha trazendo calor áquele coração congelado, áquela vida esquecida, áquela beleza ignorada e a árvore de alguma forma voltava à vida. Os galhos voltavam a germinar, o maciço piso gelado se convertia em terra firme, e folhas pareciam voltar a surgir.

A árvore se apegou áquela primavera. Nunca em toda sua vida, havia se sentido tão bem pela presença de uma primavera. Seu toque a lembrava de como era ser amada, feliz e rodeada, como quando vivia em sua floresta. Sua alegria a lembrava de como a vida era bela, e valia a pena ser vivida, cada segundo dela. Sua juventude a lembrava de levar a vida mais levemente, sem grandes preocupações, sem crises. E a árvore amou. Amou aquela primavera, como nunca havia amado tanto, em tão pouco tempo. Sua convivência com ela era contagiante, e diariamente prazerosa. Sua presença se tornou parte da árvore, se tornou essência dela, somatizou-se ás memórias daquela sombra, daquela floresta. Se acoplou em seu coração, indefinidamente. Mas a primavera fez uma consideração amarga à convivência saborosa de ambas:

- O tempo passará, e por aqui não mais poderei ficar. Teremos de nos despedir minha amada amiga árvore, nessa hora teremos de nos despedir para sabe quando nos reencontrarmos novamente.

A árvore amargamente considerou aquela proposição, e com algum quê de desespero e luz(?) refletiu:

- Ó minha amada companhia, que me faz aquecer, que me faz lembrar, que se tornou parte de mim, que é tão suave e tão necessária a minha sobrevivência...Não te preocupes com esse tempo, aproveitemos o calor deste Sol, a constância destes ventos e a sutileza desse momento juntas, sem pensar nessa despedida.

Mas no fundo, alguns dias depois, a árvore sentiu, sangrou e doeu, em silêncio, ao refletir sobre a real gravidade daquela partida. Sua tão necessária companhia, que lhe aquecia, lhe lembrava e lhe acolhia, partiria, e a árvore não fazia idéia de como viveria sem ela. Então ela chorou... "





Minha árvore se apegou demais a essa primavera. Não sei mais como será sem ela. Não quis pensar, prometi adiar, mas o pensamento veio. Mesmo com todos os meus dramas, crises, e dificuldades, tudo ainda assim era mais fácil com a primavera aqui. Pensar no futuro sem a primavera é pensar em sofrimento, pensar em solidão. Sei que ja passei por coisas mais difíceis, mas não sei se com o tempo essas coisas se ajustam...

Não estou até hoje ajustado ao arranque daquela frondosa floresta, quanto mais dessa inconstante primavera?

Com os tempo não me acostumei, talvez nunca me acostumarei. Sofro, talvez não mais, mas de formas mais intensas depois da chegada dessa primavera, pois preciso dela, sempre. E não vê-la querer-me é adiantar a tragédia anunciada de sua partida, é me ferir com sua ausência...


Me odiar por me sentir depende, sim , depende de uma primavera, é o que eu sinto. Que estação do ano fosse, não posso gostar de sofrer dessa forma. Não posso me deixar sofrer por querer dessa forma. Não é mais legal como era, sofrer. Agora ficou sério. Ficou dolorido. E dói cada vez mais, então chega. Não sei. A inconstância aqui presente é pior que tudo.

O peito dói, arde, queima e rasga, nessa ordem cíclicamente semanalmente. Às vezes, a primavera ameniza, ás vezes sua presença é tudo que a árvore não quer...mas é como dizem: É melhor estar com a primavera, do que sem ela................?

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sangue.

Ao som necessário de: Possibility - Lykke Li


O peito ardia. A vontade era de se curvar ali mesmo, onde estava e se encolher. Deixar tudo a sua volta rodar e rodas e rodar. As palavras a sua volta faziam curvas, tornavam-se incompreensíveis e não chegavam a seus ouvidos. O olhar focado num único e estático ponto se mantinha lá, enquanto a única coisa que seu ouvido captava em meio a esse transe eram risos: ao fundo, alegres e descontraídos.

- O torpor voltara...de alguma forma ele voltara. - Refletia sua consciência anestesiada.

Repreendendo-se pelo desejo primitivo, de soltar o verbo e gritar ao mundo o que sentia, e querendo, querendo do fundo de sua alma, ser avulso àqueles sentimentos. Querendo ser adulto, maduro e alheio aquilo. Mas não o era.

O pior estava por vir, as palavras eram cruéis. Sua mente fantasia, cria, ilude e o faz sofrer. Sem dúvida, na grande maioria das vezes, o grande culpado pelo seu sofrimento é ele mesmo. E o pior, ele sabe disso.

Passada a presença, sem saber se ela o faz pior ou não, vem a solidão.

- Talvez ficar longe disso seja mais saudável. - supunha uma parte otimista dentro de si.

Não era. Com a solidão e a ausência, de que palavra fosse, que curva fosse, que riso fosse, vinha o silêncio. Assassino e masoquista. Rondava e dava asas á reflexão. À tão temida reflexão. O silêncio. O silêncio.

Sua mente tomada por uma frase, nebulosa, como uma fumaça preta em um compartimento fechado, causava asfixia à lucidez. E então sua mente fantasia, cria, ilude e finalmente o faz sofrer. Priva do sono, do mundo, da vida e de toda a felicidade do mundo. Asfixiado, cansado, sofrendo, sangrando enfim.

Após horas de nebulosidade, e muito sangue vem a exteriorização.
Uma dor pulsante, uma mente asfixiada, um coração dilacerado e o choro chega.
A ambiente perfeito para a proliferação do torpor.
Encolhido e com a consciência anestesiada o choro chega. O choro com saudade, o choro de ausência, o choro de amor, de nostalgia. De nostalgia extrema às raízes, ao lar, aos pilares. Nostalgia do amor. O choro. O choro.

Não conseguia olhar a sua imagem refletida no espelho. Uma soma de nojo, asco e repugnância por seus sentimentos primitivos se assomaram a medo, vergonha e fuga. Olhar o seu relfexo era como assumir sua fragilidade, encarar o problema, e sofrer muito, muito mais. As poucas vezes em frente ao espelho evitava o contato, e saía ás pressas.

Ao recorrer a sua metade, ao procurar o abraço, encontra a verdade, jogada em sua cara como o espelho o faria, como sua consciência tentava e como só sua metade conseguia. Ler a verdade, que já estava claramente dentro de si, era terrível. Dor, e mais sangue. Mais dor e mais sangue.

De repente, não mais que de repente, de um inusitado pilar vem o que o lado primitivo queria ouvir.

- Aja! Faça! Fale! - Gritava como se ja estivesse demorando demais para isso.

Tomado por uma verdade só sua, ignorando em parte o que a metade lhe dissera ele vai. Ele procura, e por incrível que pareça, mesmo sem a reciprocidade ele clareia. Sua mente é aspirada, seu peito é suturado, e o sangue é estancado. Uma sensação de calmaria, de leveza se apossa e com ela um respirar. O ar entrou nos pulmões e saiu. Fluiu em meio aquele torpor.

Em algum ponto dentro do seu ser, em algum ponto escondido, ele sabia que falar era tudo o que ele precisava. Externar era a resolução, por menos útil que fosse a repercurssão, desabafar era preciso. E isso se fez lei.

A calmaria continuou.

O tempo passou, o garoto andou, olhou, sentiu, andou, olhou e tentou até sorrir. A volta das presenças acalmou seu coração, a volta de quase todas as presenças.

No fim do dia, ao cair da noite, e com o retorno da solidão ele sabia. Sabia que toda a fumaça, toda a fantasia, e todo o sangue voltariam. Sabia que as nuvens voltariam, que as suturas ruiriam e o sangue joraria. Porque a calmaria era só passageira. E por mais bem aproveitada que fosse, ela acabava. Enquanto tudo aquilo externado não fosse, ela acabava.


E o torpor...ah. O tão temido torpor voltaria.