quarta-feira, 2 de junho de 2010

Sangue.

Ao som necessário de: Possibility - Lykke Li


O peito ardia. A vontade era de se curvar ali mesmo, onde estava e se encolher. Deixar tudo a sua volta rodar e rodas e rodar. As palavras a sua volta faziam curvas, tornavam-se incompreensíveis e não chegavam a seus ouvidos. O olhar focado num único e estático ponto se mantinha lá, enquanto a única coisa que seu ouvido captava em meio a esse transe eram risos: ao fundo, alegres e descontraídos.

- O torpor voltara...de alguma forma ele voltara. - Refletia sua consciência anestesiada.

Repreendendo-se pelo desejo primitivo, de soltar o verbo e gritar ao mundo o que sentia, e querendo, querendo do fundo de sua alma, ser avulso àqueles sentimentos. Querendo ser adulto, maduro e alheio aquilo. Mas não o era.

O pior estava por vir, as palavras eram cruéis. Sua mente fantasia, cria, ilude e o faz sofrer. Sem dúvida, na grande maioria das vezes, o grande culpado pelo seu sofrimento é ele mesmo. E o pior, ele sabe disso.

Passada a presença, sem saber se ela o faz pior ou não, vem a solidão.

- Talvez ficar longe disso seja mais saudável. - supunha uma parte otimista dentro de si.

Não era. Com a solidão e a ausência, de que palavra fosse, que curva fosse, que riso fosse, vinha o silêncio. Assassino e masoquista. Rondava e dava asas á reflexão. À tão temida reflexão. O silêncio. O silêncio.

Sua mente tomada por uma frase, nebulosa, como uma fumaça preta em um compartimento fechado, causava asfixia à lucidez. E então sua mente fantasia, cria, ilude e finalmente o faz sofrer. Priva do sono, do mundo, da vida e de toda a felicidade do mundo. Asfixiado, cansado, sofrendo, sangrando enfim.

Após horas de nebulosidade, e muito sangue vem a exteriorização.
Uma dor pulsante, uma mente asfixiada, um coração dilacerado e o choro chega.
A ambiente perfeito para a proliferação do torpor.
Encolhido e com a consciência anestesiada o choro chega. O choro com saudade, o choro de ausência, o choro de amor, de nostalgia. De nostalgia extrema às raízes, ao lar, aos pilares. Nostalgia do amor. O choro. O choro.

Não conseguia olhar a sua imagem refletida no espelho. Uma soma de nojo, asco e repugnância por seus sentimentos primitivos se assomaram a medo, vergonha e fuga. Olhar o seu relfexo era como assumir sua fragilidade, encarar o problema, e sofrer muito, muito mais. As poucas vezes em frente ao espelho evitava o contato, e saía ás pressas.

Ao recorrer a sua metade, ao procurar o abraço, encontra a verdade, jogada em sua cara como o espelho o faria, como sua consciência tentava e como só sua metade conseguia. Ler a verdade, que já estava claramente dentro de si, era terrível. Dor, e mais sangue. Mais dor e mais sangue.

De repente, não mais que de repente, de um inusitado pilar vem o que o lado primitivo queria ouvir.

- Aja! Faça! Fale! - Gritava como se ja estivesse demorando demais para isso.

Tomado por uma verdade só sua, ignorando em parte o que a metade lhe dissera ele vai. Ele procura, e por incrível que pareça, mesmo sem a reciprocidade ele clareia. Sua mente é aspirada, seu peito é suturado, e o sangue é estancado. Uma sensação de calmaria, de leveza se apossa e com ela um respirar. O ar entrou nos pulmões e saiu. Fluiu em meio aquele torpor.

Em algum ponto dentro do seu ser, em algum ponto escondido, ele sabia que falar era tudo o que ele precisava. Externar era a resolução, por menos útil que fosse a repercurssão, desabafar era preciso. E isso se fez lei.

A calmaria continuou.

O tempo passou, o garoto andou, olhou, sentiu, andou, olhou e tentou até sorrir. A volta das presenças acalmou seu coração, a volta de quase todas as presenças.

No fim do dia, ao cair da noite, e com o retorno da solidão ele sabia. Sabia que toda a fumaça, toda a fantasia, e todo o sangue voltariam. Sabia que as nuvens voltariam, que as suturas ruiriam e o sangue joraria. Porque a calmaria era só passageira. E por mais bem aproveitada que fosse, ela acabava. Enquanto tudo aquilo externado não fosse, ela acabava.


E o torpor...ah. O tão temido torpor voltaria.

6 comentários:

  1. "querer" nem sempre está ligado a "poder ter" - devido uma infinidade de fatores. quando queremos sem ter resposta, nós sufocamos miseravelmente. mas creio que nosso pedaço que brilha, aquele da arte, não está em nós a toa. e é sempre ele que vem sussurrar nos nossos ouvidos que as coisas têm solução. essa solução pode ser tempo (para entender, aprender a respeitar os tais fatores), paciência, esperança ou mesmo ilusão. porque até a ilusão renova. quando percebemos enfim que fora mera ilusão, talvez as feridas nem doam mais! eu aceito esse drama interno que temos e ele nos faz madurar. nesse caso acho que vc precisa de tempo...aceite que o que é pra vc pode ser um pouco diferente a outro. ou mesmo que vc precisa só entender o outro. aí vai tudo descomplicar... e a sensação sufocante se aliviará. quando sufocar, por fim, escreva e desabafe! grite ao mundo! é a única forma de amenizar. porque mudar os fatos, não dá. não é se conformar, é entender e progredir, entende?
    então... o pedacinho da arte brilha em você e o guia ao caminho iluminado da sabedoria!=]

    (adorei o texto, sua narrativa me fascina! *-*)

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  2. Há todas as palavras guardadas aqui, somente para lhe acalmar e acolher...
    Feche seus olhos, e só sinta.. como se cada palavra fosse saindo leve de mim, de ti e de alheios, veja seus pilares, veja sua estrutura..
    Sua estrutura não cede assim fácil, é como uma substancia que ninguém vê, mas... está ali. E seus pilares, estarão segurando tudo, para cada questão, para cada dor, para cada... cada!
    Ah, que o vento lhe arranque as dores, lhe retire cada objeto de dor, que tudo que faça isso seja como nuvem, que o tempo seja curto e tudo fique assim calmo.
    Que a noite não venha com um mal, e que o tempo cuide de ti, quando eu não puder fazê-lo.
    te amo com todos os pilares, eternamente.

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  3. Eu não tenho a bagagem necessária para dizer algo q lhe conforte...
    Maas as horas difíceis viriam, nós sabiamos disso. A saudade e os problemas parecem se desenvolver em nosso coração de uma forma lenta, silenciosa e sufucante. Pedro, por incrivel q pareça somos fortes o bastante para lutar contra isso q nos faz sofrer.
    Faça isso q a Natana lhe disse, ouça o seu lado otimista e artistico que brilha em seus olhos e que lhe guiará, com certeza, para a solução de seus problemas.
    Busque, com todas as sua forças aquela paz, serenidade e alegria que combina muito mais com o seu ser, do que essa nuvem obscura que insiste em pairar em seus sentimentos.
    Quando seus pilares estiverem fragilizados, não hesite em recorrer aos seus amigos, q no fundo são os que SEMPRE nos ajudam mantê-los firmes em seu lugar.
    admiro muito sua escrita, sempre admirarei!

    amo-te!

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  4. Fechar-se na reflexão... torturar a mente não é a melhor escolha. Introspectivo é a palavra que define... procurar entender, e não forçar a resposta, ter paciência e não correr atras daquilo que se quer ouvir... sofrimento, alegria... todos esses sentimentos nos fazem os que somos, e nos definimos por eles... reagir e lutar perante as dubitações e a dificuldade nos faz mais fortes, alivia e amadurece a alma...

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  5. Pê, achei lindo.

    Corajosos os que encaram o silêncio, consequentemente se encaram também.
    Conheço bem esses sentimentos impressos no texto, dependendo do cansaço a gente se anestesia, mas não é bom estar anestesiada diante as questões da vida!

    beijos-beijos

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