quarta-feira, 16 de junho de 2010

Refúgio ou Fuga?

Música: John Elliot - Back Were I Was


Até que ponto alguém pode se fazer sofrer? Até que ponto isso é desejável? Se é que em algum momento foi...

Me encontro preso em grades que talvez eu mesmo tenha imposto, em um personagem que não custumava ser eu, em um mundo que não dá pra ninguém entrar, nem sair.





" Era uma vez uma árvore. Jovem, esguia, mas verde. Cresceu rodeada por uma floresta, de carvalhos, figueiras, mangueiras e outras frondosas árvores. Rodeada por sabedoria, experiência, e muito amor de todas as outras árvores. Com o passar dos anos, essa árvore foi crescendo, e observando mais e mais árvores a sua volta, que lhe rodeavam e lhe faziam companhia, sem ela perceber. Foi adquirindo mais e mais amor e felicidade, em tornada por aquelas irmãs.

Porém, um belo dia, quando sua vida botânica se encontrava feliz, e (pensava ela) completa, o inesperado ocorreu. De repente, não mais que de repente, ela foi arrancada daquela aconchegante floresta. Perdendo a consciência por dias, e voltando a si posteriormente, a árvore não entende o que lhe ocorrera. A sua volta, onde jaziam frondosas, imponentes e experientes árvores, agora se via deserto. Em volta daquela jovem e muito verde árvore, só jazia areia. Não entendia porque nem como aquilo havia lhe ocorrido, mas sua felicidade havia sido cortada. Meses se passaram e a árvore foi muchando, se encolhendo e perdendo a cor, tornava-se cinzenta e sem vida. Um inverno rigoroso se apossou da região, transformou toda a areia em gelo maciço e seu tronco foi recoberto com uma espessa camada gélida. E assim se passaram, dias, semanas, meses...

Quando a árvore já se adaptava aquela tristeza, distância e falta de amor, quando a árvore já havia se esquecido de como era aquela sombra de sabedoria e de amor de toda uma floresta, quando a árvore havia se esquecido de como era ser verde, quando tudo estava perdido, ela apareceu. Aos poucos, sorrateiramente, a primavera vinha derretendo com paciência a camada de gelo da árvore, vinha trazendo calor áquele coração congelado, áquela vida esquecida, áquela beleza ignorada e a árvore de alguma forma voltava à vida. Os galhos voltavam a germinar, o maciço piso gelado se convertia em terra firme, e folhas pareciam voltar a surgir.

A árvore se apegou áquela primavera. Nunca em toda sua vida, havia se sentido tão bem pela presença de uma primavera. Seu toque a lembrava de como era ser amada, feliz e rodeada, como quando vivia em sua floresta. Sua alegria a lembrava de como a vida era bela, e valia a pena ser vivida, cada segundo dela. Sua juventude a lembrava de levar a vida mais levemente, sem grandes preocupações, sem crises. E a árvore amou. Amou aquela primavera, como nunca havia amado tanto, em tão pouco tempo. Sua convivência com ela era contagiante, e diariamente prazerosa. Sua presença se tornou parte da árvore, se tornou essência dela, somatizou-se ás memórias daquela sombra, daquela floresta. Se acoplou em seu coração, indefinidamente. Mas a primavera fez uma consideração amarga à convivência saborosa de ambas:

- O tempo passará, e por aqui não mais poderei ficar. Teremos de nos despedir minha amada amiga árvore, nessa hora teremos de nos despedir para sabe quando nos reencontrarmos novamente.

A árvore amargamente considerou aquela proposição, e com algum quê de desespero e luz(?) refletiu:

- Ó minha amada companhia, que me faz aquecer, que me faz lembrar, que se tornou parte de mim, que é tão suave e tão necessária a minha sobrevivência...Não te preocupes com esse tempo, aproveitemos o calor deste Sol, a constância destes ventos e a sutileza desse momento juntas, sem pensar nessa despedida.

Mas no fundo, alguns dias depois, a árvore sentiu, sangrou e doeu, em silêncio, ao refletir sobre a real gravidade daquela partida. Sua tão necessária companhia, que lhe aquecia, lhe lembrava e lhe acolhia, partiria, e a árvore não fazia idéia de como viveria sem ela. Então ela chorou... "





Minha árvore se apegou demais a essa primavera. Não sei mais como será sem ela. Não quis pensar, prometi adiar, mas o pensamento veio. Mesmo com todos os meus dramas, crises, e dificuldades, tudo ainda assim era mais fácil com a primavera aqui. Pensar no futuro sem a primavera é pensar em sofrimento, pensar em solidão. Sei que ja passei por coisas mais difíceis, mas não sei se com o tempo essas coisas se ajustam...

Não estou até hoje ajustado ao arranque daquela frondosa floresta, quanto mais dessa inconstante primavera?

Com os tempo não me acostumei, talvez nunca me acostumarei. Sofro, talvez não mais, mas de formas mais intensas depois da chegada dessa primavera, pois preciso dela, sempre. E não vê-la querer-me é adiantar a tragédia anunciada de sua partida, é me ferir com sua ausência...


Me odiar por me sentir depende, sim , depende de uma primavera, é o que eu sinto. Que estação do ano fosse, não posso gostar de sofrer dessa forma. Não posso me deixar sofrer por querer dessa forma. Não é mais legal como era, sofrer. Agora ficou sério. Ficou dolorido. E dói cada vez mais, então chega. Não sei. A inconstância aqui presente é pior que tudo.

O peito dói, arde, queima e rasga, nessa ordem cíclicamente semanalmente. Às vezes, a primavera ameniza, ás vezes sua presença é tudo que a árvore não quer...mas é como dizem: É melhor estar com a primavera, do que sem ela................?

5 comentários:

  1. Todas as vezes que a árvore pensa que se afastará da primavera, antes mesmo de se afastar... deixa a primavera nervosa. primavera essa que é desleixada, boba, pois nem avisa quando vai sair... não dá explicações... uma primavera que, antes do termino de uma jornada e começo de outra, vai conseguir mudar essa realidade. a árvore viverá feliz, tendo o ano inteiro de primavera, sol, liberdade, confiança, e saberá, mesmo antes da hora de chegar nesse ponto, qndo Deus não quiser q a primavera permaneça, q a primavera nunca a esquecerá.

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  2. Sabe...
    Entrei em discordia contigo, e comigo mesma... porque do que você precisa não é o que você quer, tudo acaba refletindo no que você sente, mas ainda assim não é tudo de fato.
    Assim... pense que essa arvore precisa de seus galhos, e de suas verdes folhas.. que mesmo sem a floresta ou a primavera, ela terá seus galhos... e mesmo que caia milhares dele, sempre terá algum, que lhe faça querer continuar de alguma forma, entende?
    O que a deixa fraca, não é saber que virá um mundareo de gelo cobrir-lhe e ficar a pensar nisso, de alguma e qualquer forma que seja.
    Deixe que a primavera de agora, lhe cubra com seu Sol, vento e alegria.
    Quando vir todo aquele gelo, os galhos estarão alí.

    Um sorriso de verão pra ti.

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  3. Não sei porque a arvore precisa se torturar tanto, sabendo que todas as vezes que sentir-se mal ela sempre podera contar com alguma coisa, como se sentiu bem quando a primavera chegou. Isso é o que basta quando se tem algo solido em que confiar.

    Ps:cada dia mais, amo ler seus textos, ainda mais com a sugestao de musica!

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  4. Esta não é uma arvore qualquer, ela não se adapta a qualque ambiente com tanta facilidade, e isto é q a faz especial...para ela estar bela, com folhas verdes e brilhantes não basta os elementos básicos, como o sol, a terra o vento e água..ela precisa de mais. Precisa de mais outras belas árvores ao seu redor, para que em conjundo formem uma linda e densa floresta, precisa de uma primavera aconchegante q às vezes se faz ausente mas não a abandona, e precisa de uma solo firme q a sustente, e este esta sempre presente. Mesmo q sem folhas, ou com os galhos secos, este solo a mantem em pé sempre!

    texto lindo! *-*
    PS: "Vc sempre vai alen neh?!" é o q eu diga!

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  5. essa é uma das árvores mais fortes que já conheci. não importa quanto gelo venha. não importa o deserto ou a areia deste. essa árvore É forte! mesmo que esqueça disso, mesmo que se afunde um pouco no próprio drama e às vezes perca o caminho. lembra-se? "perder-se também é caminho". a primavera não pode durar para sempre. e não há verdade maior que essa. mas além dela há o supremo verão, há o intermediário outono e também o inconveniente inverno. nada dura para sempre...são estações, que passam e marcam, cada uma de um jeito.

    essa primavera vai passar, e outras irão surgir.
    independente de QUALQUER coisa, eu serei a SUA raíz e estarei contigo o ano inteiro!

    É incondicional. É puro. É intenso. É nosso.

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