quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Autobiografia de um dia de fênix.

Florence and The Machines - Cosmic Love

Estava pesado...

Decidi me trancar no cômodo branco. Liguei o Bill. Escolhi esta música. Eu pulei e rodopiei. Me joguei de uma parede à outra. Fechei os olhos e me danei pra os possíveis machucados de quedas e pancadas naquele pequeno grande cômodo. Dancei de olhos fechados, senti a música, eu já conhecia as batidas, segui-as. Tentei transportar para meu suor todo o meu incômodo. Com a vida, com ele, comigo com a situação. Tentei transpirar só as coisas que me faziam mal, e deixar esse fluxo mágico musical penetrar nos poros dilatados. Deixei-me levar pela batida, e dancei, pulei e esqueci. Esqueci que tinha andares, esqueci que tinha gante em casa, esqueci que tinha paredes. Me senti livre, me senti num campo ensolarado e cheio de trigo...pulando, correndo desesperadamente, sentindo o vento, sentindo o Sol, sentindo os trigos roçarem rápidos e afiados meus joelhos. E depois veio a chuva... Estava na praia. Tudo nublado, e a música muito alta. Eu cantava, eu gritava, eu sentia, eu pulsava. Essa bateria era meu coração. Essa harpa era meu movimento. Essa voz era a minha voz. Eu rodopiava, eui flutuava, eu corria eu pulava e eu sentia. Sentia tudo aquilo que eu realmente deveria sentir. E a harpa ia se complexando ao fim da música, e meus dedos seguiam-na, seguiam cada pincelada, até que ao fim, esperado e previsto, eu parei em frente ao espelho do cômodo em que eu permanecia, e ao último acorde eu endireitei e abri os olhos.



David Draiman - Forsaken


Depois de pular e dançar, parei. Atônito. Ofegante. Em frente àquela imagem. Olhei para o rosto que deveria ser meu. Olhei para o reflexo fixamente, e analisei cada centímetro daquele corpo que deveria ser meu. Olhei para a boca, para os olhos, para a escápula exposta, olhei para a barriga peluda, olhei para os braços fracos, para os dedos compridos. Ao fundo a música que lembrava o que eu costumava ser.

Uma música que misturava maldade, sexo, sedução, e sangue. Uma música que representa uma parte de mim que adoro, e pouco exponho. O lado sombrio, aquele que eu acho um barato eu ter, e que ninguém acredita. O lado que gosta de sangue, e queria ser vampiro.

Olhei tão fixamente que me perdi no olhar.

- Quem é você? - O outro perguntou. Sério, inquisitor.
Mantive o olhar e a feição idênticas ao do questionador.
- Sou Pedro Lima D'Água.
- Onde você nasceu?
- No Jardim Paulista, em São Paulo.
- O que você é?
Me demorei nessa resposta...
- Sou teatro, sou música, sou arte, sou São Paulo, s.... Sou muito mais do que meus olhos podem ver, sim eu sou.
- Por que você se perdeu? - Ele me interrompeu.
...
- Porque eu passei a viver a vida dos outros. - Porque você fez isso?
- Pra me livrar da minha. Porque era mais fácil, e porque... eu não sei se sei o porquê. - A respostas fluiam. Sem medo, sem hesitação, sem pensamento.
- O que você sente?
- Dor. Quero acabar com isso.
- O que você pode fazer para?
- Voltar a me olhar, voltar a me ver. Voltar a ser eu mesmo. Voltar a me apresentar como sou. Mandar as neuras que não faze parte de mim pro além. Mandar um foda-se pra tudo isso. Mostrar tudo o que sou, o tudo mostrável. Mostrar que não quero mais permanecer do jeito que estou. Na verdade, nem tanto me mostrar. Mas ser. Mudar. Preciso mudar.

Então olhei para o cabelo do inquisitor, e passei a mão nele. Estava estranho, desarumado sim, mas sem corte com uma textura feia. De súbito me veio a ideia de cortá-lo. Tomei um banho correndo e andei até o cabelereiro.




Brett Dennen - So Much More



Andei na rua absorto. Mergulhado na ideia da mudança. "O orkut estava certo: Sorte de hoje: Hoje pode ser um dia excelente e maravilhoso - só depende de você", pensei turbilhado. Andei por aquelas ruas com vontade, olhando para os caros, para as casas, e com um passo firme nos pés. Tinha me esquecido como gostava de andar nas ruas. Sem rumo, só andar. Então cheguei ao libertador. Lavei as correntes, e então sentei na cadeira que me tiraria do que eu não queria mais ser. Veio o salvador, com a tesoura numa mão e o pente na outra. Disse como queria me parecer, e ele o fez. Tirou as correntes e cadeados que prendiam minha personalidade. Me mostrou depois de alguns minutos em outro revelador de reflexos o que eu me tornei, e eu gostei. Saí de lá logo, e voltei para casa. Andando por aquelas ruas, escuras agora, continuei pensando no que tinha me tornado. No que tinha voltado a ser. Cheguei em casa e voltei ao banheiro. Estava cheio de cabelos ao redor do pescoço e orelhas, e precisava fazer a barba e cortar a cutícula.





Placebo - Every You Every Me



Depois de todos os processos feitos, me olhei de vez. O rosto limpo, a cabeça limpa, as mãos limpas. Nada bastaria toda aquela limpeza se meu interior não fosse mudado. Preciso me apegar forte e fixamente à essa mudança. Toda mudança é acostumável, seja ela qual for. Basta eu ter força de vontade suficiente, e eu hei de ter. Depois de todas essas fases eu hei de ter. Porque não importa mais a relação, ele, as outras, os outros, a importância, o desinteresse, a indiferença, nada disso importará. Porque se quero continuar sendo aquela pessoa confiante e sincera, devo fazer valer minhas palavras, inclusive as que proferi hoje mesmo - Os outros, todos os outros, todos, todos, todos os outros irão, mas você ficará. Então fique bem com você sempre, porque depois que todos se forem, e os seus esforços tiverem sido em vão, será intolerável viver consigo.

Já chega de discursos, de vagas ideias. Ja chega de tentar. O pensamento será mudado. O interior maso/pessimista será contido. O confiante será trazido à tona. De uma vez por todas. Não adianta me perguntarem se melhorei, ou inferirem que realmente AGORA eu saí de onde estive. Isso não é uma simples fase, isso não é uma simples crise. Não me importo que leve tempo. Mas preciso dizer isso a mim mesmo. Preciso acalmar meu coração desesperado e consolá-lo, com a vaga incerteza de melhora. Porque se eu disser de novo, e antes da hora, irei por tudo à prova, irei jogar todo o esforço por água à baixo, de uma só vez. E dessa vez chega. Só dessa vez chega. Vamos mudar, aos pequenos passos, aos pequenos suspiros, e pensando sempre no meu eu. Pensando que a vida é tentativa, o aprendizado é sofrimento e a evolução é superação. Pensando que para crer não basta ver, é preciso compreender. Pensando que nada importa. Pensando que eu sou melhor. Pensando que sou muito mais do que olho pode enxergar. pensando que nada disso valerá em pouco tempo, e que se eu não mudar agora, não mudarei mais.







Pensando em não pensar... naõ pensando.

2 comentários:

  1. sei que estamos em falta. sei que não tenho mais muita propriedade de dizer algo.
    mas enfim, estou aqui.
    espero, de verdade, que dessa vez tenha bastado MESMO. e que esse "chega" tenha chegado. porque eu sei o que passei esse ano. eu sei o que vc passou... e não aguento mais ver pessoas queridas despedaçando ao meu redor. não desejo essa sensação de "estou perdido" a ninguém.
    perder-se pode ser caminho, mas é o mais triste e mais cruel caminho...é por isso que crescemos.

    amo-te incondicionalmente,minha alma.
    o que é nosso está guardado.
    para amanhã e para mais vidas.
    vivemos então, e enfim brindemos.
    À VIDA!

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  2. ps: esse comentário meu, pode, ou não ter ligação direta com o texto.

    O que sei é que estar rodeado de tristeza não é bom, não lhe deixará melhor por nenhum segundo, porque está colocado dentro de você, você trancou-se dentro de um mundo inventado, com o Tema: DOR, e isso vai te ferir, já feriu.
    Você poderá repetir estas palavras, da forma BASTA, por muitas vezes ainda... infelizmente, mas é a verdade.
    Você precisa arrancar a raiz de toda essa dor, arrancar uma parte sua, uma que não será de tanta falta, pois o que é do seu completo é o amor mais lindo, de forma que não se explica de maneira alguma, é uma ligação do mundo com o TUDO. É de uma forma que não possui forma correta, que recebe e que se recebe.
    Só deixe o quarto branco para os loucos, pegue a chave que você escondeu e deixe a fênix lhe consumir por inteiro da melhor forma que for possível.
    Chore, e se sinta cansado assim por um período, para depois reaparecer aquele sorriso, deixe a arte te consumir de longe ou perto.. não importa.
    Sente-se em frente ao nada, e imagine tudo, da forma mais alegre que você puder, porque você pode.
    Tape este buraco, com a ajuda de todos os seus 9' com a ajuda do mundo inteirinho, pare mesmo com as coisas, para recomeçar uma mais importante.
    E depois, AME-SE... independente de seus precipícios.

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