quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Everybody's changing

Keane - Everybody's Changing


Eu venho todos os dias ao mesmo lugar. Olho todos os dias profundamente nos mesmo olhos. Aprofundo, adentro-os. Mergulho numa imensidão castanha. Me sinto quente, acolhido, numa beleza tão comum e tão única. Me vejo no meio de algo muito meu. Mas mesmo com todo o sentimento os olhos não se aprofundam em mim.

Mas os segundos que me olham, me sinto nú, me sinto abraçado, e sinto que o mundo pára.

Todo o mundo inexiste, some, simplesmente desaparece.

Só existe eu e os olhos, a me olhar, profundos, quentes.



Em outra parte do dia eu observo, e não sou observado. Vejo no observado a força de vontade para não me observar. O observado tenta parecer natural, mas mal sabe ele que o conheço demais para isso. O conheço tão suficientemente para saber que há algo de errado antes mesmo de ocorrer. Vejo essa urgência em não me observar e me entristeço. Me entristeço porque vejo nela, a indiferença. Vejo nela a ignorância do meu ser. Do meu ser por completo. é como se o observado me visse como alguém doente. Doente em alguns aspectos. Mas não sou.



A indiferença some quando outros entram no campo do observado de olhos quentes. Ela é pessoal e intransponível. Minha. Com toda a dor e pessimismo que esse ser chamado eu carrega.



E então, de súbito. Nem eu sei ao certo em que momentos. O calor volta. O olhar é encontrado, o sorriso é pego no meio do caminho e trazido para aquecer meu coração. Meu coração machucado e cheio de cicatrizes. Não sei nunca o momento. Pode demorar minutos, podem demorar semanas...mas vem.



Me pergunto com certa frequência se algum momento sou mais do que deveria, se ultrapasso alguma barreira da intimidade que não deveria. Mas então, quando questiono, me vêm a mesma resposta. A resposta que deveria continuar aquecendo, como antes aquecia, mas que agora se torna difícil acreditar. Não que seja mentira, mas é que eu tendo a achar que uma coisa muito maior, e muito mais íntima pirva de me mostrar a real verdade. Temo que seja dó. Temo porque odiarei ser digno de pena. E se isso ocorrer, eu explodirei.



Já disse, que não sou, nem estou doente. Só estou em um nível de aprendizado complexo. Se essa for a razão, sinto. Mas há uma possibilidade quase remota, de tudo ser coisa da minha cabeça. Como sempre, de tudo ser criações. Mas essa, infelizmente, é mínima.



No mais, ainda que tudo esteja como está, é cômodo. De alguma forma é cômodo. Continuo no meu estado de sobrevivência, de pedante, mas poderia ser pior. Às vezes sinto umas melhoras, mas logo elas são abafadas pela distância, pela indiferença e pela falta daqueles olhos quentes e daquele sorriso único. Sim, uma coisa sobrepõe a outra sempre, em questão de segundos.



A coisa ruim ainda está dentro de mim. Está talvez sendo domesticada, mas ainda está. Ameaça com certa e incoveniente frequência quebrar as correntes e arrasar com meu coração novamente, mas seguro-a como posso. Dentro de grades frágeis, distantes, e indiferentes.







No mais...todos estão mudando e eu não sinto o mesmo.

Um comentário:

  1. Não consigo sentir o quanto não vem a melhora para ti. Só consigo notar estes olhos castanhos com tanto calor, lhe emitindo um frio.
    E junto com dor, com solidão, junto de tanta introspecção...
    Não consigo aceitar suas palavras aqui transpostas de forma tão positiva, quanto eu sei que deveria, pensando no seu momento complexo de crescimento.
    Mas aí, vem dor pra mim, dor de ti.. por eu não estar acolhendo a sua alma como eu sei que você o fez, nos meus momentos tão dolorosos, por olhos escuros e quentes.
    Quero abraçar-lhe e chorar junto de ti, secar suas lágrimas, cessar toda essa dor injusta, proteger você do mundo, de qualquer olhar, de qualquer alguém... de tudo.

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